sexta-feira, 16 de julho de 2021

O SAMBA DO MILICO DOIDO

Ninguém me pediu opinião sobre o que se passa no Brasil, como ninguém quer saber o que penso dessa vida nem da outra.  A minha opinião vale tanto quanto um flato do Bozo.

Começando pelo meu vizinho, que tinha um galo que cantava e me encantava nas madrugadas. “Socorro! Socorro! Socorro!”, ele sempre gritava lá de cima de sua árvore. Se não pude socorrer nem o meu amiguinho penado, quem pode contar comigo?... Se o galinho foi depenado e está no além, eu não sei, mas torço para que ele esteja feliz em outro terreiro, cercado de outro harém.

Sobre o presidente, que nunca me encantou, não sei se está mesmo mal das tripas. Caso esteja, não lhe desejo mais sofrimento e muito menos a morte. Quero-o, sim, são e lúcido, mas no banco dos réus, respondendo pelos seus crimes.

Esse parece ser o governo mais militarizado de toda a história da República, e os militares que o compõem revelaram-se incapazes de servir a nação em trajes civis: uns incompetentes e corruptos. Ainda assim, de forma bastante diversa das pessoas mais pensantes, não acho que poderíamos descartar as forças armadas, como alguns países já fizeram. Nosso país tem dimensões continentais e o Estado não se mantém de pé sem uma força armada que lhe dê sustentação. Contudo, não espero nada desses oficiais que emergiram na pandemia, negociando propinas na compra de vacinas. Eles deveriam ser defenestrados das forças armadas e encaminhados a uma prisão. Mas estamos no Brasil, né?...

Se fosse no Uruguai, Argentina e Chile... Esses países, cada qual a seu modo e a seu tempo, acertaram e continuam acertando as contas com militares criminosos. Lá, volta e meia, um alto oficial vai para a prisão pelos mais variados motivos. No Brasil, não. Todos os que se imiscuíram nas instituições civis, ao invés de sofrerem punição, foram promovidos ou premiados com cargos em ministérios.

As coisas não iam bem para os fardados desde que o ex-ministro da Saúde foi convocado para depor numa CPI. Nunca na história deste país um general da ativa fora intimado a se apresentar a uma comissão de civis para interrogatório. Mas aconteceu e, temeroso de ser preso, o covardão mendigou habeas corpus junto à corte suprema – também de civis. A nota do ministro da Defesa, em tom de ameaça, não tem outra função que não seja um desagravo diante desses acontecimentos. Se a CPI for valente de fato, irá  convocar muitos oficiais, da ativa ou da reserva, porque há muita coisa fétida na banda podre das forças armadas.

De forma trágica, cômica ou ridícula, a República escorrega para um abismo de sandices. Em Brasília, um cabo de polícia teve prerrogativa de comandar uma rodada de negociação com várias pessoas, dentre os quais um coronel; um sargento da reseva ocupava uma chefia no Ministério da Saúde, tendo como auxiliar (subordinado a ele) um coronel. Há tanto rolo nesse governo, que ele parece ser uma nova versão de “O samba do crioulo doido”.

FILIPE

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