Ninguém me pediu opinião sobre o que se passa no Brasil, como ninguém quer saber o que penso dessa vida nem da outra. A minha opinião vale tanto quanto um flato do Bozo.
Começando pelo meu vizinho, que
tinha um galo que cantava e me encantava nas madrugadas. “Socorro! Socorro!
Socorro!”, ele sempre gritava lá de cima de sua árvore. Se não pude socorrer nem
o meu amiguinho penado, quem pode contar comigo?... Se o galinho foi depenado e
está no além, eu não sei, mas torço para que ele esteja feliz em outro
terreiro, cercado de outro harém.
Sobre o presidente, que nunca me
encantou, não sei se está mesmo mal das tripas. Caso esteja, não lhe desejo
mais sofrimento e muito menos a morte. Quero-o, sim, são e lúcido, mas no banco
dos réus, respondendo pelos seus crimes.
Esse parece ser o governo mais
militarizado de toda a história da República, e os militares que o compõem
revelaram-se incapazes de servir a nação em trajes civis: uns incompetentes e
corruptos. Ainda assim, de forma bastante diversa das pessoas mais pensantes,
não acho que poderíamos descartar as forças armadas, como alguns países já fizeram.
Nosso país tem dimensões continentais e o Estado não se mantém de pé sem uma
força armada que lhe dê sustentação. Contudo, não espero nada desses oficiais
que emergiram na pandemia, negociando propinas na compra de vacinas. Eles deveriam
ser defenestrados das forças armadas e encaminhados a uma prisão. Mas estamos
no Brasil, né?...
Se fosse no Uruguai, Argentina e
Chile... Esses países, cada qual a seu modo e a seu tempo, acertaram e continuam
acertando as contas com militares criminosos. Lá, volta e meia, um alto oficial
vai para a prisão pelos mais variados motivos. No Brasil, não. Todos os que se
imiscuíram nas instituições civis, ao invés de sofrerem punição, foram
promovidos ou premiados com cargos em ministérios.
As coisas não iam bem para os
fardados desde que o ex-ministro da Saúde foi convocado para depor numa CPI.
Nunca na história deste país um general da ativa fora intimado a se apresentar
a uma comissão de civis para interrogatório. Mas aconteceu e, temeroso de ser
preso, o covardão mendigou habeas corpus junto à corte suprema – também de civis.
A nota do ministro da Defesa, em tom de ameaça, não tem outra função que não
seja um desagravo diante desses acontecimentos. Se a CPI for valente de fato, irá
convocar muitos oficiais, da ativa ou da
reserva, porque há muita coisa fétida na banda podre das forças armadas.
De forma trágica, cômica ou ridícula,
a República escorrega para um abismo de sandices. Em Brasília, um cabo de
polícia teve prerrogativa de comandar uma rodada de negociação com várias
pessoas, dentre os quais um coronel; um sargento da reseva ocupava uma chefia
no Ministério da Saúde, tendo como auxiliar (subordinado a ele) um coronel. Há tanto
rolo nesse governo, que ele parece ser uma nova versão de “O samba do crioulo
doido”.
FILIPE
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