Essa foto eu tirei da varanda de minha casa um minuto antes de
abrir o computador para escrever esta crônica.
O sábado, que sempre foi para mim um dia arrebatador, hoje está
assim, tristonho, como se vê na imagem. Nas manhãs sabatinas, costumo fazer
pequenos vídeos para alguns amigos e parentes, aqueles que me são mais
próximos, mas hoje não consegui essa alegria matutina.
Hoje, como sempre, levantei-me bem antes de o dia clarear para as
minhas preces, depois veio o chimarrão, as leituras e as músicas.
Este sábado, porém, me veio amargo. As chuvas estão escassas e o
dia amanheceu nublado. Seria um bom sinal, né?... Só que não. Acho que essa é a
primeira vez que experimento a sensação horrível de um dia nublado e sem
nuvens. É algo semelhante a uma plantinha linda, viçosa, mas, chegando bem
pertinho dela, percebe-se que é de plástico – a coisa mais sem graça de se ver
–, mas com um tempero bem mais trágico.
Justamente no momento em que digito este texto, Tonico e Tinoco
cantam “Pingo d’água” na Rádio Cultura de São Paulo. Quem conhece essa música
sabe o que estou sentindo e nada poderia ser mais profético do que isso.
Toda essa formação atmosférica adversa, esse clima hostil, tem
origem no desmatamento e nas queimadas, principalmente na Amazônia. A
devastação naquela região é apocalíptica, sem citar o Pantanal onde o inferno
não é menos dantesco. Os denominados ‘rios voadores’, que partem do Norte e
trazem chuvas para o Sul, agora viraram ‘rios de fumaça e de fuligem’.
Moro num lugar privilegiado onde tem ar puro com muito verde, mas
é grande o esforço de gente escrota para acabar com essa exuberância. Volta e
meia uma árvore é cortada e sua galhada é posta na calçada. A prefeitura,
sempre “tão generosa”, estimula o serviço e desloca seus caminhões e homens
para remover os ‘restos mortais’ daquelas inocentes criaturas. É dessa forma
que o meu bairro vai “se livrando” de goiabeiras, amoreiras, mangueiras e
demais árvores frutíferas tão necessárias para nós e a nossa fauna, que agora
definha em decorrência dessa insensatez.
Ah se eu tivesse poder, mas teria de ter uma força salomônica, eu
deportaria todos os predadores do meio ambiente para... sei lá. Gaza?! Sim,
Gaza seria um bom lugar pra esses algozes da Natureza. Toda essa gente que
anseia por ver a terra devastada, estéril, calcinada deveria trocar de lugar
com o sofrido povo palestino. Que fiquem lá somente os terroristas para
receberem os malfeitores daqui. Eles que se entendam com seus pares e não lhes
faltarão agudas emoções.
FILIPE