Olha a folga! E eu pensando que
tivesse feito esse banquinho pra mim... Que nada! Depois que essas duas figuras
chegaram, nunca mais pude sentar ali pra ‘pegar a fresca’ ao entardecer, como eu
sempre costumava fazer.
Você que me lê não imagina como é
gostoso sentar nesse banco. Ele é feio? É, mas eu não acho. Malfeito? Talvez,
mas eu não acho. Esse banco foi feito com madeiras já “aposentadas”, algumas apanhadas
na rua. Aliás, esse tem sido meu hobby.
Sempre que saio com os cães, não esses pirralhos aí da foto, mas os outros
dois, meus velhos companheiros de caminhada, fico bisbilhotando as construções
e os rejeitos em seu entorno. A minha alegria é maior quando vejo uma caçamba
de sucata. Ali costumo garimpar algumas preciosidades como madeiras descartadas
e que iriam para o lixão. Com elas fiz prateleiras, portão, uma espécie de mesa
de carpinteiro e até esse banquinho. Também já corri algum risco de ser preso
por furto, e risco real! Explico.
O vizinho de baixo estava de
mudança. Fazia tempos que a sua família não dava as caras por aqui e muita
coisa foi retirada da casa e levada para outro endereço, restando algo que foi
deixado na calçada. Aqui preciso explicar a existência de um código de conduta que
vale na cidade, nos subúrbios e até nos arrabaldes: “Tudo o que se deixa na
calçada é descarte; quem quiser, pode pegar”. E na calçada do vizinho havia uma
coisa que me inflou a cobiça: um estrado de cama com as madeiras muito
certinhas e lisinhas, do jeito que eu precisava. Todos os dias eu esticava o
olho praquelas bandas e pensava: hoje eu pego aquele estrado.
Numa tarde, como de costume,
peguei a guia e chamei os cães para a caminhada. Ao passar diante daquela casa,
resolvi me aproximar e ver o que mais me interessava além do estrado. Havia dois
pedaços de caibro que me seriam de bom uso. Peguei-os e os encostei no meu
muro, mas do lado de fora, para a rua, e segui com os cães. Pensei: na volta eu
pego o estrado também. Mas o quê?! Quando voltei, o carro do vizinho estava lá,
bem ao lado dos “trem”. Entrei mal
disfarçando minha frustração, mas aliviado por ter escapado de um provável
flagrante. Deixei os dois pauzinhos lá, pensando que eles pudessem ser
recuperados pelo homem, mas não foram. No dia seguinte decidi guardar os “meus”
pauzinhos, mas o estrado eu não peguei. É preciso ser honesto, né?... Pois fui.
Passados mais uns dois dias, um
caminhão estacionou ali e levou tudo. Era mudança mesmo, concluí. Só que não. Outros
dois dias se passaram e a família já estava de volta. Ninguém havia mudado e eu
querendo surrupiar as coisas deles, pode isso?... Pensei em pôr de volta os
dois pauzinhos, mas... Como me serão úteis e ninguém se deu conta deles, fiquei
quieto.
Sobre o banco da foto lá em cima,
estou proibido de usar. Basta eu me sentar ali, que sou expulso pelo Pitoko. Se
bem que eu queria fazer outro banquinho, mas o vizinho não colabora... Ô vida!
FILIPE
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