sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O IRMÃOZINHO QUINQUAGENÁRIO



Sim, o menino, a quem costumo chamar de “Irmãozinho”, já completa seus jubilares cinquenta anos. Este irmão, bem como os outros nove, é especial para mim. Na escala etária da família é o meu vizinho de baixo, pois a irmã mais velha é a vizinha de cima.

O Irmãozinho é digno de ser biografado. Sua trajetória é permeada de fatos pitorescos e heroicos. Da irmandade, foi quem por mais tempo permaneceu na casa dos pais, indo além dos vinte anos. Dele sabemos muitas histórias, umas tristes, outras bem divertidas. Mas, como estamos em festa, prefiro ficar com a parte engraçada.

Conta-se que o Irmãozinho, um mocinho com seus quatorze anos ainda, resolveu providenciar o enxoval para suas futuras núpcias. A noiva, com certeza, estava no seu pensamento, mas ninguém sabia quem era a felizarda; talvez nem a própria soubesse disso. Mas o Irmãozinho sabia das coisas, e, tal como um pássaro galanteador, foi logo tomando providências para atrair a amada.

O seu “Antoinzinho” – um homem baixinho e meio engraçado, que consertava bicicletas usando torquês, arame, chave de fenda e um providencial martelo para dar “firmeza” no serviço – resolveu mudar-se, acho que é para Volta Redonda. E o Irmãozinho decidiu comprar-lhe a mobília. Não sei se chegou a comprar tudo, mas as panelas ficaram na história. Havia também pratos, garfos, colheres e outras preciosidades que foram guardadas em um saco. Eu pensava: “Como é corajoso este irmão! Mais novo do que eu e já providenciando um teto. Se não um teto, ao menos o que pôr embaixo das telhas. E eu?... Como sempre, atrasado.”

O Irmãozinho também apreciava a “boa gastronomia”. Todas as tardes, mas acho que há exagero nisso, passava ele numa vendinha para comprar “um pão e dois doces”. Abria o pão, colocava nele dois doces de leite e o comia sofregamente. A turma mais abonada comia “pão com salame”, que não era salame. Somente mais tarde é que pude aprender que salame é coisa pra grã-fino; o que os “abonados” comiam por ali era mortadela. Havia duas marcas: Delícia e Fluminense. A primeira não era tão boa quanto a segunda; mas para nós, lá em casa, quando tinha mortadela, até a Delícia era deliciosa. Mais feliz era o Irmãozinho, pois descobrira seu pão com doce, que era gostoso e barato. Mas, dois doces?! Resolvi experimentar a iguaria, e, diferentemente do irmãozinho, famoso pelos seus “dois doces”, comprei um doce só. Tive que esfarinhá-lo para fazer render. Gostei.

Dentre as tantas histórias minhas entrelaçadas às do Irmãozinho, quero destacar uma. Eu morava em Juiz de Fora e passava por mil apertos financeiros. Planejava uma fuga e dar um calote no dono da pensão em que morava, pois não tinha como lhe pagar. Mas, na véspera da minha insensata decisão, eis que surge naquelas paragens, sabe Deus como, o Irmãozinho. Metalúrgico, parecendo estar com a carteira bem recheada, já foi logo se prontificando a me ajudar. Meio envergonhado, disse-lhe que tinha algumas pendências, coisa pouca para pagar, mas que não se preocupasse. O Irmãozinho sacou logo um cheque e pagou minha conta na pensão. E ainda deixou-me uns trocados para eventuais necessidades.

Neste sete de setembro, Irmãozinho, estarei em prece por você e pelos que o cercam. Parabéns pelo jubiloso dia e seja bem-vindo ao “Clube dos Cinquenta”!

FILIPE

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