O Velho estava aperreado. “Coinfeito!”, dizia e repetia para mim e para si enquanto examinava a tela de seu computador. Não é bem isso que ele diz quando está bravo, mas é o que sempre entendi ao longo da vida em delicados e perigosos momentos como aquele. No seu vocabulário, “coinfeito” exprime aborrecimento com alguém que fez “arte” e merece apanhar.
Eu chegava do ranchinho, quando me deparei com o Mano Véio na varanda de casa. Havia chegado naquela tarde e já estava no computador do pai, animado e proseador, enquanto páginas eram abertas e fechadas freneticamente. O pai chegou devagar e o espiou à distância, desconfiado, esticando o pescoço para tentar ver algo na tela. Olhava para mim, para o computador, para o Mano, mas não disse palavra. Quem falou algo foi o Mano, que deu umas explicações ao Velho. Aliás, este irmão gosta de explicar as coisas e costuma ser bem-informado mesmo – justiça lhe seja feita. Mas, parece que desta vez ele falhou.
“Pai, o computador está infectado por um vírus terrível!” “Mas ele tá funcionando comigo...” “Não, pai. Tem um vírus e vou limpá-lo para o senhor. Aqui, pai, tá vendo?... Vou dar este comando. Aí, vai aparecer aquele ícone, tá vendo? Então, eu vou inserir... Pronto, inseri. Agora apareceu uma vassourinha, tá vendo? Esta vassourinha é que vai limpar o seu computador”. “É, tô vendo uma coisa ali, mas parece uma trincha.” “Então, pai, parece trincha, mas é uma vassoura que varre tudo e deixa limpinho e sem vírus. Vou dar enter e é só aguardar uns minutinhos. Agora eu vou sair para o Corgo Preto. Mas é só reiniciar, que vai ficar uma beleza.”
Aqui, um pequeno parêntese: o nome do simpático arraial é Vilas Boas, embora alguns falem Corgo Preto e quase todos nós, Cor Preto.
O tempo passou, o computador não proseava e o pai me pediu socorro. “O que tá acontecendo aqui? O meu “feice” não entra de jeito nenhum!” “Ih, pai, eu não entendo desse negócio de vírus não. Ele é quem sabe, mas vou ver o que aconteceu.” Posicionei-me diante da máquina, ajeitei a cadeira, dei umas estaladas nos dedos e comecei a mexer no teclado. Havia dito que não entendia nada, mas nesse momento cheguei até mesmo a ficar metido, confesso. A modéstia seria apenas motivo para valorizar meus ‘ricos conhecimentos em computação’. Mas, como a mediocridade é mais forte do que a vaidade, não consegui resolver bulhufas. E o computador engasgou de vez, não acessando a tal da net nem por macumba braba. Arrisquei: “Que tal a explorer?” Bingo! A explorerfuncionou, mas muito lenta. “Ah, não. Eu quero o GoogleChrome”, reclamava um magoado papai cheio de razão.
É, a tal vassoura do Mano Véio é boa mesmo. Varreu tudo do computador, não deixando nem o “feice” do papai. Desinstalado nessa varrição, o Google Chrome fora para o lixo. E o pai teria que esperar pela sua reinstalação por longo tempo: atravessaria todo o sábado, o domingo inteiro para, somente na segunda-feira, buscar socorro num especialista de verdade. E assim se fez.
Quando pequeno, há muitos e muitos anos, ouvia mamãe gritar com seu primogênito: “Isto é pra você deixar de serabiúdo!” Eu queria saber o significado daquela palavra, mas, por razões óbvias, tinha medo de perguntar à mãe, se é que me entendem. Mas o moleque era mesmo um ‘mexilhão’: mexia em tudo, um abiúdo.
Engana-se, porém, quem pensa que estou aqui a espinafrar o Mano Véio. Da irmandade, é dos mais generosos e foi graças a ele que o pai se tornou um internauta. Providenciou para o Velho um notebook, a conexão com a internet e agora já está ensinando o pai a usar antivírus.
FILIPE
gostei muito de texto muito bem escrito!!! kkk
ResponderExcluirJosé Lopes, pelo "feice".
ResponderExcluirO Felipe, com seu Blog, vai atrás de nossas falhas para dar vida aos seus comentários. E isso é louvável, mas voltando ao assunto do "ABELHUDO", achei foi engraçado. Tenho muito a agradecer aos meus filhos, que muito me ajudam em minha caminhada durante a longa vida que Deus está me concedendo e esse ‘viver bastante’ tem servido de alegria para eles. Agora, vem à tona o caso do computador. Anchieta, para vasculhar os seus "e-mails", achou que o computador estava lento. Depois de suas andanças pelo computador, cismou de passá-lo para o "explorer", dizendo que assim ficaria mais rápido. Acontece que se deu mal, motivando a minha reclamação. Não posso denunciá-lo, pois ele é tão generoso. Só que ele modificou a configuração e deu errado.
Não, pai, eu não vou atrás de falhas. Até porque, quem mais falha sou eu.
ExcluirO Mano Véio deve estar bravo, mas eu não poderia deixar passar em branco a história do "Abelhudo". Aliás, este irmão, que é muito amado por todos nós, é um personagem pronto. Quem o conhece pode confirmar.