LIRISMO: “Tapera de beira de estrada...”,
assim começa uma música nesta fria madrugada de primeiro de maio.
Enquanto faço estes rabiscos para o blog, ouço, na varanda de meus pais e ao
lume trêmulo de uma lamparina, umas músicas de raiz. A chama da lamparina vai e volta, inclina-se
para cá e para lá, parecendo-se curiosa sobre o que escrevo. Mas não, são
delírios meus. Essa lamparina evoca “os tempos mais antigos do passado”, quando
não tínhamos luz elétrica nem água encanada e morávamos aqui, onde ainda
permanecem meus velhos e queridos pais.
A chama está agora
verticalmente ereta e parece ter desistido da curiosidade para se concentrar na
música de Tonico e Tinoco, que tangem suas cordas no minúsculo aparelho de meu
pai. Aqui, neste momento, dois mundos tão díspares se encontram: o da
tecnologia digital, do século vinte e um, e o da novecentista lamparina a
querosene. De permeio, este intruso que divaga.
Recordo o passado embalado
pelos cantadores de alma pura, acompanhado do chimarrão, de um livro de preces
e de um “Andrea Del Fuego”. Escrevo o texto num papel de pizza – mais tarde, plasmado na tela,
percorrerá o continente e cruzará o Atlântico para buscar abrigo no “feldades”,
já em terras de Camões.
A alegria de estar
aqui transcende a tempo e espaço, e o que é transcendente não se descreve: contempla-se,
apenas. E eu continuo aqui, meio desequilibrado com o que aprecio. Ao longe, um
galo também se encanta.
REALIDADE: Mas a realidade me fere e me
desperta. Lá bem distante, nas bandeirantes terras de São Paulo, o estado mais
rico da nação, muitos professores estão em greve. Nas escolas faltam de tudo:
carteiras, cortinas, vidraças, água, vagas para alunos e, incrível: pratos e
talheres. Há casos de escolas em que se usam pratos e talheres de plásticos,
sem reposição ou troca, há mais de quinze anos. São utensilhos cheios de
ranhuras, um abrigo para colônias de fungos e bactérias, um atentado à saúde. E
o pior: alunos e professores convivem com essa precariedade, típica de um país
subsaariano, como se fosse normal. É normal que o estado de São Paulo, com um
terço da riqueza da Nação, ofereça escolas tão precárias?
Desculpe-me a
quebra de lirismo, mas não me contive. Se quiser saber mais sobre o estado
crítico em que nos encontramos, acesse um texto recém publicado em minha página do “feice” sob o título: "Por que lutamos?"
Termino este, desconfiado
de que meu tempo por aqui esteja expirando. Minha mãe sempre nos disse que “tudo
tem conta, peso e medida”.
FILIPE
Nenhum comentário:
Postar um comentário