sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

REBELADOS

Tencionava escrever sobre minha recente visita aos pais, mas fui atropelado pelo noticiário e me desviei daquela rota. Com a licença do arredio e voluntarioso leitor, vou nesta.

O Brasil está dominado por criminosos – de gravatas ou bermudões – desde que aqui chegaram as gravatas e os bermudões. Engravatado preso quase não há, mas pés de chinelo sob ferros encontram-se à farta. E estes despertaram o novo ano com diversas rebeliões no Norte e Nordeste do País. Discutem as possíveis motivações, com bem fundamentadas teses, os doutores nos telejornais e os bebuns encostados no balcão ensebado do bar do Barba. Embora não sendo doutor nem bebum, quero opinar sobre o que acontece, mas “posso não lhe agradar”.

Ouço dizer que no Brasil há presos em excesso, que o ideal é fechar cadeias, que estas são universidades do crime e não recuperam ninguém, que o sistema é ‘punitivista’ e que as rebeliões que ora acontecem são devido à superlotação. Mas como até a “mãe do Michelzinho” deve saber, essa não é uma guerra contra o Estado, mas entre facções.

Nossas prisões são similares às masmorras medievais e disso ninguém discorda. Um preso, que tem custo mensal superior a dois salários mínimos e meio, deveria ser tratado com mais dignidade. Por outro lado, não se prende muito como dizem – prende-se mal. Quase metade dos cerca de 640 mil apenados não tem sentença judicial e é composta por autores de pequenos delitos como furtos ou posse de parcas quantidades de droga. Outra parte é arraia-miúda sem advogado ou com penas cumpridas, mas sem alvará de soltura. Também há aqueles que cumprem pena por pensões alimentícias, e o caso de um senhor de 65 anos, trancado com bandidos por não pagar pensão a um neto, tornou-se emblemático.

Se o Brasil quiser mesmo combater o crime, terá que construir mais cadeias, pois as que temos são insuficientes. E o raro leitor, inteligente que é, há de concordar comigo. Aos números: No Brasil, nos últimos vinte anos, UM MILHÃO de pessoas foram assassinadas; somados os números de estupros e assassinatos, chegam-se a obscenos cem mil casos por ano; a taxa de assaltos por aqui é o dobro da média mundial. Se a justiça fosse efetiva, daria para pôr em cana ao menos cem mil facínoras desse naipe todos os anos, sem contar a grã-finagem composta de corruptos e corruptores. Teria que ser trancafiado todo indivíduo que ameace a sociedade, independentemente da idade ou classe social.

Mas está tudo errado. Recentemente houve homicidas postos em liberdade por não haver vagas nas penitenciárias... Pergunto: precisamos ou não de mais cadeias? Claro que sim. Para   que possamos andar em liberdade pelas ruas e praças.

E não me venham com esse "temerário-papo-coxinha" de Exército nas ruas! As Forças Armadas existem para garantir o Estado de Direito, protegendo fronteiras, mas não têm vocação nem treinamento para policiamento. Os governos estaduais que cuidem de suas polícias, capacitando-as e lhes dando condições de exercer sua função.


FILIPE

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