Um ano atrás, ganhei de meu pai uma
pequena plantinha, que embrulhei com muito jeito num jornal e pus dentro da
mochila com cuidado para não a sufocar. Não há criatura mais vulnerável do que
uma mudinha de banana, principalmente se ela está dentro de uma mochila e se
essa mochila está com alguém displicente, que quer transportá-la por centenas
de quilômetros.
Meu pai pegou essa muda onde
existe uma rústica plantação de bananas-maçãs, ainda dos tempos de meu avô
paterno. E o pequeno filhote chegou ao destino, ganhando como “bercinho” um
vaso bem adubado. Então, entre mimos e regas, a primeira folha despontou minúscula,
num desanimado verde-abacate. Depois, com outras folhas já num verde mais
pronunciado, a menina foi se animando, refolhando-se e se vestindo, até ser
necessária sua mudança para o solo, onde se emancipou. Seu novo lar foi numa
encosta, próximo a um pé de manga-espada, que por aqui se diz manga bourbon. A anfitriã mangueira, uma exuberante
“pré-adolescente” que também veio das Gerais, agora tem para quem contar seus muitos
causos mineiros.
O meu affair com as bananas é antigo e até já falei das casas dos
caboclos de antanho, que tinham as bananeiras como providenciais banheiros. Mas
essa minha “menina” tem uma única função: dar bananas e nada mais.
Na casa onde fui criado, não
havia bananeiras. Meu pai diz que aquele solo arenoso não era apreciado por elas,
que preferem terra massapê. Já na casa de minha avó materna havia bananas, que
eram guardadas na despensa, dentro de uma arca – uma enorme caixa de madeira onde
se armazenava arroz em casca. De vez em quando, minha avó tirava dali umas pencas
madurinhas e as distribuía conosco. Que delícia!
Na despensa de meu avô paterno também
tinha bananas. No chão, atrás da porta, encostado numa parede que tinha um
prego para pendurar molhos de chaves, costumava aparecer um rotundo cacho de
bananas-maçãs soberbamente orgulhoso de suas bagas verdes, e sem pressa de amadurecê-las. Eu apenas observava. Em poucos dias, porém, uma
mancha amarela partia de sua base, cobria toda a extensão e chegava ao topo: era
hora de atacar. Ali, diferentemente da casa de minha avó, as bananas estavam
sob domínio de minhas mãos. De vez em quando, precisando entrar naquela
despensa para pegar as chaves, também pegava furtivamente umas bananas e as
comia ali mesmo. Muitas vezes, deixava o recinto entalado, tentando disfarçar o
malfeito. Eu pegava as bananas de trás do cacho na tentativa de ludibriar o meu
avô, que não se importaria com isso. Mas a “cratera” ia aumentando rápido, de
forma que comecei a desconfiar de alguma concorrência. Tinha lá o irmão mais
velho, o irmão mais novo, uns primos. Vai saber...
Mas a minha bananeira, antes
pequenina e solitária, cresceu, teve filhas e netas e me deu, como prova de
gratidão, um belo cacho de bananas, que comi sem pressa e sem culpa. Neste Carnaval, comi muitas bananas-maçãs que
eu mesmo cultivei. Elas tinham o mesmo cheiro e sabor das bananas que eu esgueirava
de meu avô. Bananas com sabor de infância!
FILIPE
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