sexta-feira, 3 de março de 2017

BANANA-MAÇÃ

Um ano atrás, ganhei de meu pai uma pequena plantinha, que embrulhei com muito jeito num jornal e pus dentro da mochila com cuidado para não a sufocar. Não há criatura mais vulnerável do que uma mudinha de banana, principalmente se ela está dentro de uma mochila e se essa mochila está com alguém displicente, que quer transportá-la por centenas de quilômetros.

Meu pai pegou essa muda onde existe uma rústica plantação de bananas-maçãs, ainda dos tempos de meu avô paterno. E o pequeno filhote chegou ao destino, ganhando como “bercinho” um vaso bem adubado. Então, entre mimos e regas, a primeira folha despontou minúscula, num desanimado verde-abacate. Depois, com outras folhas já num verde mais pronunciado, a menina foi se animando, refolhando-se e se vestindo, até ser necessária sua mudança para o solo, onde se emancipou. Seu novo lar foi numa encosta, próximo a um pé de manga-espada, que por aqui se diz manga bourbon. A anfitriã mangueira, uma exuberante “pré-adolescente” que também veio das Gerais, agora tem para quem contar seus muitos causos mineiros.

O meu affair com as bananas é antigo e até já falei das casas dos caboclos de antanho, que tinham as bananeiras como providenciais banheiros. Mas essa minha “menina” tem uma única função: dar bananas e nada mais.

Na casa onde fui criado, não havia bananeiras. Meu pai diz que aquele solo arenoso não era apreciado por elas, que preferem terra massapê. Já na casa de minha avó materna havia bananas, que eram guardadas na despensa, dentro de uma arca – uma enorme caixa de madeira onde se armazenava arroz em casca. De vez em quando, minha avó tirava dali umas pencas madurinhas e as distribuía conosco. Que delícia!

Na despensa de meu avô paterno também tinha bananas. No chão, atrás da porta, encostado numa parede que tinha um prego para pendurar molhos de chaves, costumava aparecer um rotundo cacho de bananas-maçãs soberbamente orgulhoso de suas bagas verdes, e sem pressa de amadurecê-las.   Eu apenas observava. Em poucos dias, porém, uma mancha amarela partia de sua base, cobria toda a extensão e chegava ao topo: era hora de atacar. Ali, diferentemente da casa de minha avó, as bananas estavam sob domínio de minhas mãos. De vez em quando, precisando entrar naquela despensa para pegar as chaves, também pegava furtivamente umas bananas e as comia ali mesmo. Muitas vezes, deixava o recinto entalado, tentando disfarçar o malfeito. Eu pegava as bananas de trás do cacho na tentativa de ludibriar o meu avô, que não se importaria com isso. Mas a “cratera” ia aumentando rápido, de forma que comecei a desconfiar de alguma concorrência. Tinha lá o irmão mais velho, o irmão mais novo, uns primos. Vai saber... 

Mas a minha bananeira, antes pequenina e solitária, cresceu, teve filhas e netas e me deu, como prova de gratidão, um belo cacho de bananas, que comi sem pressa e sem culpa.  Neste Carnaval, comi muitas bananas-maçãs que eu mesmo cultivei. Elas tinham o mesmo cheiro e sabor das bananas que eu esgueirava de meu avô. Bananas com sabor de infância!


FILIPE

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