“Desculpa pelo mal-entendido,
professor! Eu estava errado aquela vez, foi mal...” Pasmo, ouvi do rapaz aquele
pedido de desculpas, que aceitei sem delongas. Disse-lhe ainda, que o quero
feliz e que todos os dias rezo por ele – como sempre rezo pelas pessoas que me
dão alegria ou tristeza. Ele respondeu: “Eu também, professor”. Sem saber se ele
rezava por mim ou me desejava felicidade, agradeci de pronto e sinceramente
tamanha generosidade.
O episódio aludido pelo rapaz não
foi apenas um simples ‘mal-entendido’, mas algo bem mais desagradável. Há
tempos, sofri dele uma agressão verbal na sala de aula seguida de ameaças etc.
Colérico, reagi como pude, e se arma eu portasse naquele momento, uma história
bem diferente desta estaria para ser contada.
Mas a cura para essas e outras chagas encontrei nas preces que faço
diariamente.
Todos passamos por dolorosos
conflitos, quando nos afloram os mais inconfessáveis ímpetos homicidas, mas não
podemos sucumbir à força da nossa natureza nada angelical. Usemos a razão ou, doutra
forma, trocaremos a civilização pela barbárie.
Recentemente, uma vibrante manchete
ocupou várias mídias, louvando a “bem-sucedida” operação policial que deu cabo
de dez bandidos. A fatídica quadrilha ousara assaltar uma residência num bairro
da grã-finagem paulistana, e se deu mal. Falou-se de “intensa troca de tiros”
entre polícia e bandidos. O governador publicou nota em apoio à operação,
afirmando que “uma quadrilha foi desmantelada”, e que “quem porta fuzil não
quer conversar”.
De início, quis concordar com o governador,
mas só “de início”, porque não dá para aceitar aquele tipo de operação como
“política de Estado”, principalmente de quem pleiteia ser presidente da
República. Explico.
Primeiro: não houve “troca de
tiros”, porque, felizmente, nenhum policial foi baleado. Já no lado do ‘inimigo’, uma
sinistra média de quatorze perfurações por cadáver – a maior parte com sinais
claros de execução. Foram 139 tiros certeiros em 10 homens, alguns com mais de
trinta ‘buracos’; quem recebeu apenas um tiro, teve-o na nuca. Segundo: a
quadrilha não foi desmantelada. As autoridades sabem que os mentores do crime
nem sempre participam de ação armada. Aqueles que morrem não passam de “soldados” de
uma organização sofisticadamente hierarquizada. As “altas patentes” foram
preservadas com a morte de seus comandados. Estes poderiam entregar seus chefes,
porque a moda agora é “delação premiada” – alguém aí já ouviu falar dela?
O caso “Morumbi” é notícia velha.
Ninguém quer saber mais disso nem do que acontece nos grotões do país, quando
lideranças camponesas são exterminadas como moscas. Índios, quilombolas,
sindicalistas são perseguidos e dizimados sem que ninguém os proteja.
A nova “política de segurança”
implantada por Michel Miguel, o Pequeno, é de morte e não de vida. Além de tantas
‘temeridades’, a triste figura acaba de liberar a famosa pistola Taurus
Millenium 9 mm, uma das armas mais letais do mundo, capaz de matar até três
pessoas com um único tiro. Policiais de folga poderão portá-la, mas apenas os
policiais. Mas alguém precisa avisar os bandidos que eles não têm autorização...
E nada de ficar chupando o dedinho, cobiçando a arma do meganha, entendeu?...
“Não matarás!” Já li isso em
algum lugar, mas faz muito tempo.
FILIPE
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