sexta-feira, 29 de setembro de 2017

NÃO, GENERAL!

Servi o Exército por dois anos e, apesar da ditadura militar que infelicitava a nação à época, trago boas recordações da caserna. Lá, conheci pessoas íntegras, generosas, que muito me ensinaram.  A disciplina era dura, mas não havia privilégios para os mais abastados. Para o bem ou para o mal, soldado era tratado como tal, sem distinção de cor, classe ou sobrenome. Havia uma frase muito batida, que o sargento repetia aos conscritos nos primeiros dias: “Aqui é o lugar onde o filho chora e a mãe não escuta!”  Não me lembro se chorei no quartel. Devo ter chorado, mas de saudade de alguém, que não escutou, como também minha mãe não escutara – proibida que estava pelo sargento disciplinador.

São impressionantes as oportunidades encontradas por quem ingressa nas Forças Armadas. Para o caboclo estudioso e responsável, uma estradinha de sucesso pode ser aberta, e uma carreira, ainda que modesta, pode surgir-lhe alvissareira. Conheci muitos militares graduados oriundos de comunidades carentes, que se ergueram através do empenho pessoal. Há pouco tempo, Dilma Rousseff (alguém se lembra dela?...) deixou ainda mais auspiciosa a carreira militar, garantindo que mulheres ingressem como oficiais combatentes nas três Armas. Antes, elas poderiam exercer apenas funções burocráticas.

Gosto dos militares e sei o quanto eles nos são uteis. Tive como capelão o padre Gaio, um capitão amável, que nos devotava carinho quase paternal. Gostava de brincar conosco, dizendo que nunca seria papa, porque não poderia se tornar um “papagaio”. Tinha também um cabo cozinheiro e gorducho, muito bonzinho. Disseram-me que ele colaborava com os soldados, quando estes deveriam mandar fezes ao laboratório de análises clínicas. Não conseguindo colher o material, alguns infelizes recorriam àquele benfeitor, que fornecia o “produto” à farta.

Mas tanto lá como cá, maus-caracteres existem e são abundantes. Estes estão nas empresas, igrejas, governos ou repartições públicas, fazendo os estragos de sempre. Quero, com isso, afirmar que não se deve apostar em determinado segmento da sociedade – no caso, os militares – para salvar a pátria, porque salvacionismo só existe nas mentes ingênuas ou insanas.

Recentemente, numa loja maçônica, um general da ativa defendeu a intervenção militar no país. Antes, esse mesmo oficial perdera um importante cargo devido a declarações desairosas. Mas agora, tendo como chefe o “denunciado”, não foi punido. Temeroso, o “temerário” não teve a hombridade de ao menos advertir seu subordinado. Nem uma nota, um bilhete, um rabisco qualquer, ele teve coragem de apresentar à nação, reprovando o malfeito do subordinado.

Mais recentemente, outro general, agora num templo católico, foi na mesma linha daquele. Em homilia transmitida pela TV, o Arcebispo Militar do Brasil, um “três estrelas”, exaltou a bravura, a competência e a honestidade de seus colegas fardados, confiando a eles a missão de tirar o Brasil do lamaçal em que se encontra. De um bispo católico, eventualmente incardinado capelão militar, espera-se o pacifismo; jamais o belicismo de um aiatolá.
  
Os militares são sempre imprescindíveis, mas desde que permaneçam dentro de seu “quadradinho constitucional”. Os civis, bem ou mal, vamos desentortando os caminhos através do voto. E sem a tutela de generais, por favor!


FILIPE

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