O casal de juritis chegou devagarinho
à minha varanda. Um deles pousou no muro, deu uma espiada pra cima, pra baixo e
pros lados. Melhor vasculhar as cercanias, vai saber se não tem um gato por
perto?... – pensou. O namorado aproximou-se mais, aninhou-se num vaso de
samambaia e fez a corte. Seus movimentos circulares, contudo, não animaram a
companheira, que continuava olhando de longe, ressabiada. Essa coisa não vai dar certo, tenho medo – deve
ter pensado a prudente pombinha. No dia seguinte, já havia uns gravetos amontoados
pelo noivo que, embora galanteador, parecia não ter muito jeito para a coisa. A
noiva, no entanto, não se animou nem um pouco com aquela gambiarra, e ameaçava
abandonar o recinto, inclusive o consorte.
Entre humanos, já ouvi dizer, as
mulheres têm queixas semelhantes às daquela pombinha. Mas há quem diga serem elas
umas eternas revoltosas: reclamam da vida e de tudo, e nunca se dão por
agradadas. Mas a pombinha tem razão, porque o seu pretendente é mesmo atrapalhado
e muito lambão, que nem sequer um ninho decente é capaz de fazer para sua
amada.
Eu, compadecido daquela jovem, tentei
dar uma força. Peguei um pratinho de plástico, ajeitei nele uma porção de capim
seco e pus na samambaia, desprezando acintosamente o trabalho do pombo ‘porcão’. Esperei para ver o resultado e...
não é que funcionou?! A mocinha ficou feliz e houve núpcias na minha varanda. E
eis que logo surgiram dois ovinhos que, sem demora, se transformaram em dois
filhotinhos com bico, pena e tudo mais a que uma ave tem direito. A mãe,
orgulhosa e enciumada, não saía do ninho por nada. Mas o pai, cioso de sua
responsabilidade, aparecia em seu turno para substituir a companheira nos
cuidados com as crias. Desde então, enquanto um chegava com o almoço, o outro
já saia para providenciar o jantar. E os moleques foram crescendo, crescendo, e
tão rapidamente que, em uma semana, a mãe já não coube nos aposentos,
deixando-os sozinhos sob a provável proteção de algum “anjo da guarda”. Pouco depois, os pais decidiram interromper o
fornecimento das ‘quentinhas’, obrigando seus rebentos a irem à luta. A prole
protestou, choramingou, mas não adiantou.
Numa tarde, porém, um deles fugiu,
deixando para trás seus muitos excrementos e o irmãozinho. Fiquei preocupado.
“Será que foi abandonado para sempre? Como os pais, inicialmente tão zelosos, desprezam
uma criança tão indefesa? E seu irmão de sangue, aquele desnaturado?...”
Mas o pequerrucho não foi
abandonado. Embora sozinho no ninho, estava sob constante vigilância da mãe que,
pousada no muro, falava-lhe algo num idioma que só as rolinhas dominam. No dia
seguinte, este desapareceu também. Mais tarde, no quintal do vizinho, a família
estava reunida, festejando à maneira deles. Os pequenos, incentivados pelos
pais, faziam ginásticas aeróbicas e já ensaiavam pequenos voos. Em pouco tempo,
encetarão voos mais soberbos e dominarão os ares nas alturas.
A sabedoria ‘columbina’ nos
mostra que “é sozinho que se aprende a voar”.
FILIPE
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