domingo, 3 de dezembro de 2023

A GALINHA GRÁVIDA

 


Essa menina é muito linda, não é mesmo?... Pois é, dias atrás eu tive a alegria de cuidar dela e de suas colegas – uma dezena de “donzelas solteironas” e de ‘de bem com a vida’. ‘Solteiras’ não por opção ou convicção, mas por imposição. Naquele quintal não há ‘varão’ e elas se contentam apenas com o canto apaixonado de um ‘vizinho seresteiro’.

Ah, o galo... Preciso falar desse “rapaz” também. Fico impressionado com esse sujeito e acho que o raro leitor já deve ter observado como ele é carinhoso com suas amadas. ‘Suas’, porque ele exige uma boa turminha de “esposas”.  O carinho com que um galo trata seu harém é impressionante. Não é à toa que o verbo ‘galantear’ venha de ‘galante’, que se origina de ‘galo’. Então, se um homem quer ser galante de verdade, é preciso aprender com o “galã”.

À galinha que abre esta crônica darei o nome de Pretinha. As galinhas, além de anônimas, são minimalistas. Elas precisam apenas de um pouco de ração ou milho, algumas folhas como salada, água e só. No mais, elas passam o dia curtindo sua curta vida, ciscando e trocando confidências com suas comadres, talvez falando sobre o ovo que mais tarde irão botar e torcendo para que este não seja tão grande.

Então, a Pretinha me chamou a atenção por um detalhe. Enquanto suas colegas estavam perambulando e cantarolando, esta minha amiga não saía do ninho. Na verdade, ela estava em “estado interessante”, isto é, grávida. Quando cheguei para colher os ovos, tive que revirá-la, enfiando as mãos sob sua penugem quente e fofa. Incomodada, a Pretinha reagiu com umas bicadas tão suaves que pareciam carinho. Que dó!

Uma galinha, quando grávida, fica nervosa, não aceita comida, não quer papo e afasta quem quer que se aproxime com resmungos e beliscões.  Quem lê isso aqui e já teve galinhas entende dessas coisas. Tanto é que antigamente, “galinha choca” era apelido de gente chata e reclamona, pelo menos lá pelas bandas em que nasci e cresci.

Uma galinha choca para de pôr ovos, emagrece e dá prejuízo ao dono. E para curar o choco de suas galinhas, os caboclos da minha terra usavam métodos bastante desumanos, submetendo o animalzinho a cruéis sessões de tortura. Aqui descrevo algumas maneiras usadas para curá-las.

De início, a galinha era arrancada do ninho, tendo suas asas amarradas uma à outra, o que a impedia de andar e a deixava prostrada. Passados dois ou três dias, caso ainda não estivesse curada, ela seria trancada embaixo de um balaio e ali permaneceria por mais dois ou três dias. Não surtindo o efeito esperado, a coisa ficaria mais séria. O balaio seria levado ao brejo e a galinha, além de trancada, teria de ficar sobre uma poça d’água até que fosse atestada a sua “cura”. Penso que isso seja coisa do passado e que as galinhas de hoje não sofram mais tais atrocidades.

Porque triste é o destino dos animaizinhos, domésticos ou silvestres. O ser humano deveria repensar seu papel na natureza e preservá-la, cuidando melhor de cada vivente.  

Vida longa às galinhas, particularmente a Pretinha, e juízo aos homens – os donos do mundo.

FILIPE


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