Essa menina é muito linda, não é mesmo?... Pois é, dias atrás eu tive a
alegria de cuidar dela e de suas colegas – uma dezena de “donzelas solteironas”
e de ‘de bem com a vida’. ‘Solteiras’ não por opção ou convicção, mas por
imposição. Naquele quintal não há ‘varão’ e elas se contentam apenas com o
canto apaixonado de um ‘vizinho seresteiro’.
Ah, o galo... Preciso falar desse
“rapaz” também. Fico impressionado com esse sujeito e acho que o raro leitor já
deve ter observado como ele é carinhoso com suas amadas. ‘Suas’, porque ele
exige uma boa turminha de “esposas”. O
carinho com que um galo trata seu harém é impressionante. Não é à toa que o verbo
‘galantear’ venha de ‘galante’, que se origina de ‘galo’. Então, se um homem
quer ser galante de verdade, é preciso aprender com o “galã”.
À galinha que abre esta crônica
darei o nome de Pretinha. As galinhas, além de anônimas, são minimalistas. Elas
precisam apenas de um pouco de ração ou milho, algumas folhas como salada, água
e só. No mais, elas passam o dia curtindo sua curta vida, ciscando e trocando
confidências com suas comadres, talvez falando sobre o ovo que mais tarde irão
botar e torcendo para que este não seja tão grande.
Então, a Pretinha me chamou a
atenção por um detalhe. Enquanto suas colegas estavam perambulando e
cantarolando, esta minha amiga não saía do ninho. Na verdade, ela estava em “estado
interessante”, isto é, grávida. Quando cheguei para colher os ovos, tive que
revirá-la, enfiando as mãos sob sua penugem quente e fofa. Incomodada, a
Pretinha reagiu com umas bicadas tão suaves que pareciam carinho. Que dó!
Uma galinha, quando grávida, fica
nervosa, não aceita comida, não quer papo e afasta quem quer que se aproxime com
resmungos e beliscões. Quem lê isso aqui
e já teve galinhas entende dessas coisas. Tanto é que antigamente, “galinha
choca” era apelido de gente chata e reclamona,
pelo menos lá pelas bandas em que nasci e cresci.
Uma galinha choca para de pôr
ovos, emagrece e dá prejuízo ao dono. E para curar o choco de suas galinhas, os
caboclos da minha terra usavam métodos bastante desumanos, submetendo o animalzinho
a cruéis sessões de tortura. Aqui descrevo algumas maneiras usadas para curá-las.
De início, a galinha era arrancada
do ninho, tendo suas asas amarradas uma à outra, o que a impedia de andar e a deixava
prostrada. Passados dois ou três dias, caso ainda não estivesse curada, ela
seria trancada embaixo de um balaio e ali permaneceria por mais dois ou três
dias. Não surtindo o efeito esperado, a coisa ficaria mais séria. O balaio
seria levado ao brejo e a galinha, além de trancada, teria de ficar sobre uma
poça d’água até que fosse atestada a sua “cura”. Penso que isso seja coisa do passado
e que as galinhas de hoje não sofram mais tais atrocidades.
Porque triste é o destino dos animaizinhos,
domésticos ou silvestres. O ser humano deveria repensar seu papel na natureza e
preservá-la, cuidando melhor de cada vivente.
Vida longa às galinhas, particularmente
a Pretinha, e juízo aos homens – os donos do mundo.
FILIPE
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