Hoje o Frei Gabriel está
completando ‘cinquenta e um anos’. Há pouco tempo, por ocasião de um retiro do
qual ele participava, familiares e amigos fomos convidados a escrever um
pequeno depoimento sobre a vida desse amado frade. Não de forma explicitamente autorizada,
mas consentida pelo Freizinho, aqui deixo registrado o meu modesto texto.
São muitas as histórias que poderiam ser contadas sobre o Frei Gabriel,
algumas bastante pitorescas, mas farei apenas um breve relato de algo que me
parece suficiente para descrevê-lo.
Certa vez o Frei passou uns dias de férias comigo, quando eu morava num
pequeno cômodo nos fundos da casa de um tio, em Mauá. Jovenzinho ainda, pouco mais do que um menino,
o freizinho parecia homem-feito dentro daquela “batina”. Conversa vai, conversa
vem, resolvemos dar uma volta na cidade e depois pegamos um trem com destino a
São Paulo quando ele me disse: “Eu gosto de andar com você porque eu fico mais
à vontade para usar este meu hábito. Não é sempre assim, sabia?... Há quem se
incomode com isso!” Fiquei lisonjeado, surpreso até, porque eu não sou o mais
simpático dos ‘Moura Lima’ – pelo menos é o que dizem.
Naquele trem, o Frei me deu uma aula sobre o Oriente Médio. Na verdade,
eu só queria saber por que diabos palestinos cismavam de jogar pedras em
soldados israelenses. Mas ele resolveu fazer uma panorâmica e começou contando a
história do povo hebreu desde seus primórdios. Ousei interromper, pedindo que
ele apenas respondesse à minha pergunta. Mas pra quê... O homem ficou nervoso e
me deu uma enquadrada: “Bom, se você quer saber o porquê dessa briga, então
tenha calma, porque esta é a minha maneira de explicar. Preciso partir do
começo pra chegar ao final”.
E foi exatamente ali, naquele trem de passageiros entre Mauá e Santo
André, que me dei conta de que o nosso Biezim havia ‘crescido em estatura e
sabedoria’— e brabeza!.
Na verdade, daquele hábito, que é uma espécie de ‘batina franciscana’
usada pelos religiosos, sempre gostei. Tanto é que, certa feita, estando muitos
de nós de férias na casa dos pais, aprontei uma traquinagem. De manhã, enquanto
o Frei dormia, catei o seu hábito, que estava pendurado na porta do quarto, vesti
e saí desfilando pela casa. Todos me sorriam. Uma irmã, pensando que eu fosse o
religioso, me abraçou e foi logo me oferecendo café. Até mamãe se alegrou comigo
e me lascou um beijo na cacunda. Nisso, eu comecei a rir e a farsa logo se
desfez, deixando a irmã tão desapontada, que ela talvez quisesse me “desabraçar”;
e a mamãe também parecia querer me “desbeijar”.
E foi assim que eu pude experimentar a singular alegria de “ser o Frei
Gabriel”, ainda que por apenas uns poucos minutos, mas tempo suficiente pra
saber que a vida dele, embora sacrificada, é bastante recompensada por afagos,
e uma delícia de ser vivida!
FILIPE
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