sábado, 3 de fevereiro de 2024

O MISTERIOSO VISITANTE NOTURNO

 


Em todas as manhãs eu encontrava algum vestígio da sua visita. Ora havia manga mordida e abandonada, ora era a semente de uma manga agora inteiramente devorada. Dia sim outro também, estava embaixo da mesa os sobejos do ‘visitante noturno’, que eu nunca soube quem era. Como a refeição desse ‘carinha’ era sempre ali, decidi facilitar-lhe a vida e passei a escolher as melhores frutas e deixá-las numa bandeja de isopor para seu conforto. E assim ele ficou satisfeito e eu também. Então, todas as tardes eu reabastecia o pratinho e mais à noite ele vinha para a ceia.

 

Como a safra da manga estava no fim e pouquíssimas frutas poderiam ainda ser apanhadas, eu já me preocupava com a ‘segurança alimentar’ daquela criatura. Então, decidi variar um pouco, pondo uma goiaba e uma manga. Mas, no dia seguinte, a manga havia sumido enquanto a goiaba permanecera intocada. A exigência desse meu ‘cliente’ fez aumentar a minha preocupação. Embora eu tivesse muitas mangas na geladeira, elas seriam insuficientes para atravessar a entressafra, que se estende por muitos meses.

 

A minha “patroa”, sabendo desse caso, desconfiou de ratos – eu pensava em gambás. Eu nunca soube que ratos pudessem se alimentar de mangas ou de outra fruta, mas sei que a preferência desses roedores é pelos cereais. Gambás, sim, estes, além de carnívoros, são frugívoros vorazes. “Não, não pode ser rato. É gambá ou ouriço”, intuí. 

 

Para melhor elucidação, resolvi armar uma arapuca, utilizando uma bacia, conforme se vê na foto lá em cima. Peguei duas mangas e as trespassei por um arame. Depois, com um pauzinho, sustentei a bacia e amarrei nesse suporte um barbante, ligando-o ao arame. Pensei: assim que o danadinho pegar uma das mangas, o arame vai puxar o barbante, que vai arrastar o pauzinho, e a bacia prenderá o serzinho misterioso. No dia seguinte, cheguei curioso pra ver a surpresa, mas que nada! A bacia continuava armada e as frutas incólumes.

 

Não, não terá sido gambá o visitante noturno, porque gambás são confiados demais para perceber que uma armadilha poderia surpreendê-los. Que bicho poderia ser? Claro que um rato! Ratos são espertos, muito espertos. Não à toa que, na tarde anterior a esse experimento, enquanto eu fazia “uns trem” na minha ‘oficina de carapina’, apareceram-me dois olhos assustados que, mal me avistaram, recuaram apressados e subiram velozmente o muro, desaparecendo num átimo.

 

Eu jamais mataria aquela ratazana.  Assim como não (nunca mais!) matarei cobras nem animal algum, exceto pernilongos e escorpiões com os quais não há convivência possível. Contudo, não estou disposto a alimentar ratos e nem os quero por perto. Por isso, a partir de então, nada de bandeja com frutinhas para a ceia de quem quer que seja o ‘ilustre visitante noturno’, e muito menos para esses “dentucinhos”. Daqui pra frente, a regra é: ‘mais racionalidade e menos romantismo’.

 

FILIPE

Nenhum comentário:

Postar um comentário