sábado, 11 de maio de 2024

O CAVALO DE NOÉ



“Apenas a ignorância, e tão somente ela, pode nos fazer felizes”. 

 

A frase acima é de minha lavra, e por isso mesmo de péssimo gosto. E como mau frasista que sou, por coerência, continuo escrevendo más crônicas. 

Partindo da premissa de que apenas os ignorantes são felizes, então não sei o porquê de minha tristeza. Ultimamente estou numa melancolia de dar dó e por isso evito o noticiário, todo ele. Não tenho tomado conhecimento dos fatos de Brasília, do meu estado, do meu município e, muito menos, do mundo. Sei que a Rússia continua esganando a Ucrânia e Israel prossegue fustigando os palestinos. Como não posso deter a fúria assassina daqueles genocidas, prefiro não tomar pé dos acontecimentos. 

O mesmo acontece com as notícias que vêm do sul. Sei que o Rio Grande está sob um dilúvio de proporções bíblicas e que o gaúcho vive seus piores dias. Aqui, sim, eu poderia fazer alguma coisa, e tenho tentado. A minha contribuição se faz com algumas preces, que são bem fraquinhas – e com uma irrisória contribuição financeira, que poderia ser mais significativa caso minha humana sobrevivência permitisse. 

Ah, e o cavalo? Então, embora eu não tenha lido nada sobre aquelas cheias, sei do desespero dos gaúchos e deles me compadeço conforme já exposto acima. Do cavalo, eu soube de sua aflição por várias fontes. Diziam que ele estava por dias num telhado, sem água nem comida. Só não me contaram o que o animal fazia ali: se esperava por socorro ou pela morte. Felizmente, apesar dos protestos de “pessoas de bem”, uma equipe de salva-vidas resgatou o Caramelo – esse é o nome do animalzinho. 

A Natureza não é aquela mãe ingênua e charmosa conforme os românticos acreditam. Ela é sábia, generosa, mas exigente e até vingativa. Não seria de bom-tom desafiá-la como temos feito. O desmatamento, a contaminação das águas e do solo, a emissão de gases de efeito estufa e outras traquinagens farão gemer esta geração e a próxima – isso se houver a próxima! 

Ainda bem que o nosso bravo povo sulista não se separou do ‘brasilzão’ conforme querem alguns desalmados. É de todos conhecido o rompante separatista de certos gaúchos e catarinos desejosos de criar a ‘república do sul’, incluindo aí o Paraná. Para aqueles celerados, o norte e nordeste são obstáculo ao desenvolvimento econômico puxado pelo sul. Contudo, neste momento aflitivo a solidariedade aos sulistas veio de todos, particularmente da população agreste. 

Quando vi a imagem triste do tristonho Caramelo, pensei que ele estivesse nessas ruminações aqui descritas. No entanto, acho que ele estava mesmo é esperando por Noé. Que, enfim, chegou! 

FILIPE 



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