O arredio leitor não se assuste.
Não farei uma defesa apaixonada de Lula neste “ensaio”, mas também não lhe
farei ataques, pois de safanões ele não carece e deve estar com o lombo ardendo
de tanto apanhar. Ademais, o meu político favorito nem é brasileiro, mas
uruguaio. Gosto do “Pepe Mujica”. Aquele, sim, quando no exercício do mandato,
manteve a simplicidade, dirigindo seu fusca e continuou morando no mato, numa
chácara da família. De seu ordenado como presidente do Uruguai, noventa por cento
eram doados para instituições de caridade. Se atualmente meia de dúzia de
nações estivessem sob o comando de “Mujicas”, a humanidade estaria curando suas
chagas e se redimindo de seus males.
Volto ao Lula. Essa “jararaca” é
o alvo da caçada que se empreende. As miras do Judiciário, no entanto, não estão
no homem, mas sobre o que ele representa. Há contra Lula mais de uma centena de
ações em diversos tribunais espalhados pelo País. Enquanto não o puserem sob
ferros ou o impedirem de disputar eleições, não haverá trégua. Convocado pelo “justiceiro
de Curitiba”, Lula teve de explicar a origem de um apartamento e de um sítio.
Ora, alguém que governou o País por oito anos ser acusado de ganhar um
apartamento e um sítio?... Isso parece caso de vereador de província e em
primeiro mandato. Acredito que um presidente da República, no “ofício de seu
vício”, compraria apartamentos em NY, Paris, Londres... ou poços de petróleo na
Arábia Saudita. Jamais um sítio com pedalinhos pra lá de brega e apartamento em
Guarujá.
Quem leu alguns livros de
história conhece a trajetória de Getúlio Vargas e pode compreender o momento
que vivemos. Aquele gaúcho, um político multifacetado e polêmico, destorceu o
centro do poder, mudando para o Sul o centro de gravidade da política nacional.
Mas os oligarcas paulistas e mineiros não lhe deram sossego. Aconteceu a tal
Revolução Constitucionalista, logo depois a ditadura do Estado Novo, a queda do
“caudilho”, o retorno do “velhinho” e, finalmente, o suicídio do “pai dos pobres”.
Agora os tempos são outros, mas a hipocrisia e a desfaçatez permanecem
inalteradas, pois vivemos sob o jugo de um governo ilegítimo e despótico, um parlamento
venal e um judiciário corporativista e vingativo.
Afirmo nestas linhas, já
encerrando, que Lula não é ladrão; sendo, é um bobalhão que nem se presta a “roubar
decentemente”. Jânio quadros, que entrou na política pobre, morreu deixando
sessenta e seis imóveis. Quantos são os imóveis de Lula? Já Paulo Maluf é um
cara esperto. Mantém, segundo a Agência Estado, suspeitosos 340 milhões de
dólares no exterior, embora fosse obrigado a devolver à prefeitura paulistana
um pouco mais de oitenta milhões de reais. Maluf não é investigado pela Lava Jato,
não é fustigado pela mídia e nem corre risco de ser preso.
Lula não é Getúlio. Como uma “jararaca
mal matada”, ele ainda dá seus botes, mas, para gozo de seus desafetos, não
disputará eleições. Com sorte, passará seus tempos finais no ostracismo; com
menos sorte, na carceragem; sem sorte alguma, terá o destino de Getúlio ou de
Juscelino.
Em 2018, aprofunda-se o caos. Ah,
não vai dar e eu terei que me mudar para o Uruguai. Quero morar naquela Pasargada, que já foi a nossa “Província
Cisplatina”.
FILIPE
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